Tripas revoltas à moda de ELISA: eis a receita paleopatológica proposta por Piers Mitchell do Imperial College of London. A equipa deste historiador da medicina e paleopatólogo seguiu a pista encontrada nas crónicas coevas das Cruzadas – que aludem a constantes surtos disentéricos – e recorreu a um ingrediente singular: amostras de solo colhidas nas latrinas dum hospital medieval pertencente à Ordem dos Hospitalários, situado em Acre - cidade do então Reino de Jerusalém. Através do teste de ELISA identificaram a presença de dois parasitas intestinais, os protozoários Entamoeba histolytica e Giardia duodenalis, que causam diarreias violentas e outros "desconfortos" intestinais – sintomas que configuram quadros clínicos designados por amebíase e giardíase, respectivamente. Desvelou-se, assim, a causa das “horas de aperto” dos cruzados e dos peregrinos que se socorreram, no século XIII, das latrinas do hospital de São João. Para além das minudências e das novidades de ordem técnica e académica, este trabalho reforça o potencial que a paleopatologia detém enquanto aliada fundamental dos que buscam o conhecimento histórico fundamentado.
Mais informação:
Mitchell, P. et al. (2008) Dysentery in the crusader kingdom of Jerusalem: an ELISA analysis of two medieval latrines in the City of Acre (Israel). Journal of Archaeological Science, 35: 1849-1853. Dixon, B. (2008) Crusaders' dysentery. The Lancet Infectious Diseases, 8: 530-530.
2 comentários:
Vivat Palaeoparasitologia!
Mas suspeito que há um outro elemento, que não parasitário, na génese de tais “desconfortos intestinais”. O meu “fundamento” é a expressão facial do senhor cruzado neste cartoon! LOL
É soberbo o domínio do Piers Mitchell em matérias fecais. E temos que reconhecer que tem uma certa devoção à paleopatologia, ao dedicar-se durante décadas às escavações em latrinas e locais análogos :- ).
bjs
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