Miguel Torga (1907-1995), escritor, médico e humanista, descreveu, despojado do jargão clínico, as chagas leprosas de Julião [do conto O leproso, 1944]: “Havia muito que qualquer coisa em si medrava como o fungo nas espigas verdes. Cresciam-lhe na cara gomos de carne dura, insensível e vermelha.” (p. 64) “Caíra-lhe ainda há pouco o polegar direito, a cara, inchada, nodulosa e deformada, dava-lhe um estranho e horrível ar de bicho, não sentia pedaços inteiros do corpo.” (pp. 69-70) “Só ele e a santa [Santa Agonia] podiam olhar aquele monte de carne a apodrecer, a despegar-se, e ao mesmo tempo a dar a impressão grotesca de renovo, numa proliferação desconforme.” (p. 70)
“Os pés eram patorras informes, onde não se viam unhas nem veias; as pernas, ulceradas, pareciam pinheiros cascalhudos, sangrados sem piedade; no peito, medravam a esmo caroços, sôfregos como cogumelos num toco carunchoso. Mas no rosto é que os estragos da devastação se mostravam mais cruéis. Dir-se-ia que lhe tinham colado à cara natural bocados toscos de barro vermelho, numa tentação demoníaca de caricatura impiedosa. Nenhuma imaginação humana, por mais rica e ruim, seria capaz de deformar tanto a fisionomia dum ser.” (pp. 70-71)
“…olhos inflamados por sobre os tortulhões malares…” (p. 71)
“Mas desmantelado pela gangrena, putrefacto e repelente, via a morte aproximar-se dele minuto a minuto. [...] A laringe roída mal podia falar. [...] E lá continuou a empurrar os cepos das pernas e a cabeça medonha e pesada...” (p. 75)
“E o leproso fugia àquele castigo terrível com as forças que lhe restavam, a espetar o toco dos pés nos tojos arnais.” (p. 77)
“Os pés eram patorras informes, onde não se viam unhas nem veias; as pernas, ulceradas, pareciam pinheiros cascalhudos, sangrados sem piedade; no peito, medravam a esmo caroços, sôfregos como cogumelos num toco carunchoso. Mas no rosto é que os estragos da devastação se mostravam mais cruéis. Dir-se-ia que lhe tinham colado à cara natural bocados toscos de barro vermelho, numa tentação demoníaca de caricatura impiedosa. Nenhuma imaginação humana, por mais rica e ruim, seria capaz de deformar tanto a fisionomia dum ser.” (pp. 70-71)
“…olhos inflamados por sobre os tortulhões malares…” (p. 71)
“Mas desmantelado pela gangrena, putrefacto e repelente, via a morte aproximar-se dele minuto a minuto. [...] A laringe roída mal podia falar. [...] E lá continuou a empurrar os cepos das pernas e a cabeça medonha e pesada...” (p. 75)
“E o leproso fugia àquele castigo terrível com as forças que lhe restavam, a espetar o toco dos pés nos tojos arnais.” (p. 77)
Miguel Torga (2003) Novos Contos da Montanha. 5.ª Edição. Lisboa: Publicações Dom Quixote. [conto: O Leproso]
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