sábado, 1 de novembro de 2008

Opistótono: “Paleofantasia” ou paleopatologia?


Opisthotonus in a patient suffering from tetanus. Sir Charles Bell (1809)

A "paleofantasia" e a paleopatologia interceptam-se com regularidade. E desta confluência brotam interpretações indiscutivelmente criativas, embora, regra geral, pouco fundamentadas. Exemplos de hoje [literalmente] e de ontem não faltam. Mas a História (mais do que a Ciência) encarrega-se do julgamento dos paleofantasistas. Veja-se o caso do paleopatólogo Roy Lee Moodie (1880-1934), que, em 1918, relacionou a posição de fósseis de vertebrados com o opistótono – configuração adoptada pelo corpo que resulta de episódios espasmódicos dos músculos do tronco e do pescoço, devidos, por exemplo, ao tétano ou a intoxicações (ex. lítio ou estricnina). No ano seguinte, a curiosa explicação alvitrada por Moodie foi refutada na revista Science. E, no entanto, este paleopatólogo continua a figurar (na minha opinião com toda a legitimidade) nos textos sobre a história da paleopatologia.



Mais informação:

Balter, M. (2008) AAAS Annual Meeting: how human intelligence evolved - is it science or 'Paleofantasy'? Science, 319(5866):1028.

Dean, B. (1919) Dr. Moodie's Opisthotonus. Science, 49(1267):357.

Moodie, R.L. (1918) Studies in paleopathology. III. Opisthotonus and allied phenomena among fossil vertebrates. The American Naturalist, 52(620/621): 384-394.

1 comentário:

Anónimo disse...

A publicação de Moodie, dado o distanciamento temporal, poderá até despertar uma certa ternura ou condescendência. Mas a História e a Ciência, não raras vezes, são indolentes e pouca justiça fazem às obscurantes “paleofantasias” que inundam os nossos tempos, e que desacreditam a paleopatologia.